quarta-feira, junho 29, 2005

Eu vi...

Eu hoje estive num sitio onde me esqueci que estava em Portugal, onde só me lembrei que o racismo existe porque pensei que é completamente estúpido.
Eu estive a jantar numa sala onde a maioria era gente oriunda de africa. A minha mesa era de seis pessoas. Eu era uma dos três brancos, os outros dois eram os meus pais. Ao nosso lado estava uma enorme mesa cheia de gente e eu não sei dar uma percentagem de brancos ou de pretos. A única percentagem que sei dar é que estavamos todos bem cem por cento bem, não havia diferenças.

Vi algo que não costumo ver com muita frequência, vi abraços entre brancos, entre pretos, entre brancos e pretos.
Não havia confusões. Não havia pessoas a embebedarem-se, não havia pessoas a falar alto, não havia pretos com aquele andar à "xunga" como estamos habituados a ver. Não havia diferenças. Ali, a única diferença era mesmo o tipo de melanina, se é que há melaninas diferentes.

Ali, naquele siito eu dei por mim a pensar, a ter vontade de escrever e de registar esses momentos e de dá-los a conhecer, partilhá-los e de mostrar que não é a cor que define a educação e inteligência do ser humano.
Vi ali pessoas inteligentes que quiseram, procuraram e conseguiram ter uma vida melhor.
Eu vi ali médicos, advogados, engenheiros, músicos, locutores de rádio, funcionários públicos...e não vi faltas de educação nem gente a sobrepor a voz para se fazer ouvir nem vi ninguém a interromper outro para falar.
Eu vi a boa educação, a mesma que falta àqueles que estupidamente estão a conseguir fazer com que a ignorância seja relançada através do racismo. Mas não só a esses pois também há muito braquinho "tuga" que parece não ter recebido educação. E não é só o branquinho que não tem muitas posses, incluo também o branco que tem tudo para ser educado mas julga-se o dono do mundo porque anda com roupinha boa e telemóvel topo de gama, e que não respeitar o outro.

Isto tudo para dizer, mais uma vez, que o racismo é uma atitude estúpida e de quem não tem olhos na cara...ou de quem tem mas seja limitado e não consegue ver coisas boas.

Eu também vi um preto que é Músico, mas excelente músico. Não daqueles que se diz ser e não se esforça ou que prefere atalhos mais fáceis e recorrer às tecnologias para aperfeiçoar o que não consegue fazer bem. Eu vi um Homem que ama a Música, que defende a Música, que se chateia, irrita-se e refila quando ouve algo que não está a ser bem tocado. Eu vi um compositor, pianista, guitarrista, vocalista...eu vi um Músico como nunca tinha visto. Sim, como NUNCA tinha visto.

sexta-feira, junho 24, 2005

A Carris

Quem anda de transportes públicos deve conhecer bem como funciona essa empresa. É uma desgraça! Os autocarros demoram mais tempo do que deviam a passar, as paragens enchem-se de gente, muitas vezes os motoristas são uns antipáticos e esquecem-se que são pagos para fazer serviço público.

Para além disto tudo, a empresa andou a fazer publicidade enganosa! Ah pois é!
É que aí há uns tempos havia um anúncio a propósito daqueles paineis "informativos", e nesse anúncio a ideia que queriam passar aos consumidores, era que aquilo seria muito bom porque permitiria aos utentes saber quanto tempo falta para o próximo autocarro chegar e assim saberem o que fazer às suas vidas. Mas a distância que vai entre o que é dito no anúncio e a realidade vivida por quem espera e desespera numa paragem de autocarro, é abismal!

Estava eu na paragem do 20 e do 38, no rato, e olhei para esse painel mentiroso. Estava lá escrito " 20-Alto de Santo Amaro 9 minutos" , " 38-Calvário 3 minutos". Passados três minutos o mesmo painel dizia " 20-Alto de Santo Amaro 7 minutos" , "38-Calvário 1 minuto".
Aplicando o conceito matemático que se aprende na primária, vejo que se antes dizia 9 minutos e se passados 3, o mesmo painel diz 7 minutos é porque algo está mal. Entretanto lá passou o 38, em que eu não entrei. Os 7 minutos que então estavam anúnciados para o 20 prolongaram-se em 10...mas o autocarro não chegou. E pior!! Muito pior! Aquilo passou de 7 minutos para 36 minutos! É verdade, estava lá escrito 36 minutos!

É isto que a Carris chama simplificar a vida aos utentes. Isto tudo para dizer que aquilo é uma tanga! É uma tanga suportada por nós, utentes, que todos os meses lá entramos com quase 25€ para ter o famoso Lisboa Viva activado para os próximos 30 dias.
Mas também somos nós que somos prejudicados porque a Carris não quer ceder às exigências dos trabalhadores. A Carris queixa-se de falta de dinheiro, aumenta-nos os passes em 3% mas põe máquinas que NÃO SERVEM PARA NADA! nos autocarros. Se pensam que aquilo é útil desenganem-se! É fácil entrar no autocarro sem validar o título de passe, sem que o motorista repare. Passar com o passe e dar sinal vermelho ou luzinha amarela é igual! O condutor está-se nas tintas!

Mas os nossos passes aumentam porque a gasolina aumenta. Mas nós também estamos a pagar esses paineis informativos que nada informam, que nada ajudam, que nada melhoram os serviços prestados pela Carris.

Só gostava que as queixas típicas de paragens de autocarro acabassem. Os administradores, o departamento de Marketing da empresa não nos ouve. Enquanto estamos lá à espera do autocarro que nos leve ao destino, esses responsáveis estão sentados nas suas secretárias preocupados com contas. Nada mais do que contas. Eles não se importam connosco, eles não se importam se os autocarros demoram a passar. Eles têm os seus carros ( na sua maioria bons carros) estacionados no parque de estacionamento. Eles não andam de transportes. Eles não sabem nada. Só sabem dizer que fazem de tudo para melhorar o funcionamento da empresa, mas nunca vemos o resultado desses esforços. O que vemos só nos leva a pensar que os esforços são em sentido contrário..o de piorar o trabalho da empresa.

Caba a cada um de nós que sofre com isso manifestar a nossa revolta!
Não me vou ficar por este post num blog que poucos sabem que existe. Vou à Carris, vou à DECO. Parada é que não posso ficar. Mesmo que não mude nada, ao menos vou sentir que não estive parada.

Nós por cá e outros por lá

Estou revoltada. Apetece-me gritar, mudar o mundo, mas não consigo. Vejo as notícias na televisão e o coração bate mais depressa. Ou por raiva, ou por pena, mas essencialmente por causa da frustração que me preenche. Por não ser capaz de ser capaz de pôr as minhas ideias e ideais em prática, porque eu não tenho poder para isso. Porque me irrita ver as caras dos nossos políticos que tanto prometem, e nós, mesmo sabendo que nunca cumprirão, ainda aceitamos que se candidatem a eleições.

Mas a minha frustração é global. Não consigo limitar a minha vontade de querer fazer algo de bom unicamente ao que se passa por cá. Não sou insensível. Não consigo ver aquelas crianças doentes em África, subnutridas, e sem hipótese de mudar as suas vidas, a curto prazo. Olho, vejo e sinto uma enorme vontade de um dia vir a ter hipóteses de dar algo de bom a esses meninos.

Aqui nesta zona do planeta não fiz mais do que olhar para as minhas roupas brinquedos que há muito não uso, livros que já li ou que já estudei e entregar a uma instituição de caridade para enviar para lá. Quero acreditar que tudo o que fui entregar à igreja foi-lhes entregue.

Isto por cá anda mal. Queixamo-nos, mas temos roupa, comida, casa, família, instrução, computador, Internet, televisão, telemóvel, viajamos, saímos, divertimo-nos… e lá? O que há para além de fome, pobreza e uma necessidade enorme de mudança?!

quinta-feira, junho 23, 2005

Eu

Quando eu peço que não comentem comigo o que acharam dos textos, não é por querer ver um grande número de comentários para me encher o ego. Nada disso! É apenas por achar que isto não é um lugar só meu, não é um sítio onde só eu posso escrever. Não! É por achar que toda a opinião é útil, e não só para mim, mas também para outros que também se interessaram pelo que por aqui é escrito. Não há ideias iguais, a minha ideia não é cem por cento igual à de outra pessoa, há sempre algo mais. E é aí que me interessa, não só ter esse algo mais para mim, mas também para outra pessoa que venha cá ler, se vier.

É que eu adoro ouvir opiniões sobre diversos temos. Devoro programas em que ouvintes e telespectadores possam expor os seus pontos de vista. Não só me mantém informada do que se vai passando fora das paredes cá de casa e do percurso habitual que costumo fazer quando saio de casa, como também me abre horizontes, me dá a hipótese de conhecer outros pontos de vista e reflectir sobre eles.

E depois, claro que dou por mim a pensar em coisas e a ter vontade de escrever, quer seja aqui ou noutro sítio qualquer. Apenas escrever para deixar um registo, um desabafo, uma ideia...

O que é que eu posso fazer?! Sou do signo Gémeos! Vivo com a informação!

segunda-feira, junho 20, 2005

ERRO!!

O MEU AMIGO BRUNO ENCONTROU ERROS! QUERO EMENDÁ-LOS AQUI!
No texto sobre o racismo, mesmo no fim está,
" Eu orgulho-me de ter a oportunidade de conhecer pessoas que diferentes países e de não cair nas malhas da ignorância racista. É esse o meu orgulho. "
Devia ser " Eu orgulho-me de ter a oportunidade de conhecer pessoas DE diferentes países e de não cair nas malhas da ignorância racista. É esse o meu orgulho. "
Depois há outro errito no texto da constituição mas isso foi porque o teclado é muito sensível..Não liguem ao esttou. ;)

Incêndios

Estou farta de incêndios! Estou farta de ouvir que há incêndios aqui e ali. Farta de ouvir em prevenção.
Para mim a melhor prevenção era fazer como se faz em França. Lá há uma lei que diz que terra queimada não pode ser comprada durante os trinta anos depois de ter sido queimada. Acredito que o número de incêndios diminuiria!! Ninguém me tira da cabeça que a maioria dos incêndios são provocados por fogo posto. Não me espanta nada que assim seja, uma vez que a terra ardida é desvalorizada, e para quem quem construir brutas casas isso seja uma maravilha. Põem fogo nas florestas, o preço do terreno baixa, compram-no e fazem lá o que querem.
Por mais que falem em prevenção continua a haver incêndios. E eu não quero acreditar que seja agora que o calor provoca incêndios. Sempre houve florestas e matas, sempre houve calor. Tudo bem, as temperaturas têm aumentado, mas os meios de combate às chamas também estão mais sofisticados. Cá por mim isto tem tudo mão criminosa...
Continuo na minha, isto devia ser como em França...terra ardida não pode ser vendida durante 30 anos.

Criminalidade, Racismo...E tudo e tudo e tudo...

Ontem fez uma semana que houve o tal arrastão em Carcavelos, e hoje está a começar uma manifestação contra a onda de criminalidade. Mas será mesmo por causa da onda de criminalidade ou será apenas um pretexto para haver uma concentração de racistas?! É que convém lembrar que a criminalidade não começou no passado dia 10 de Junho. Sempre existiu. Eu apenas acho curioso só agora haver gente revoltada…Não queiram que eu acredite que o motivo da manifestação seja mesmo a criminalidade! Porque é que não se lembraram de manifestar contra aquela mãe e aquele tio que fizeram não se sabe bem o quê, à pequena Joana de Portimão? Isso não é considerado crime? Porque é que não se lembram de manifestar contra a pedofilia? Parece-me assim que o termo “criminalidade” é muito relativo.

Faz-me tremenda confusão ao cérebro a estupidez dos racistas. E quando digo racistas digo todos aqueles que não conseguem ver que não é a cor da pele que influência o comportamento de uma pessoa.Por essa ordem de ideias preto é todo aquele que é criminoso. Então devo lembrar que há muitos brancos pretos…

Há pouco ouvi na SIC NOTÍCIAS um rapaz que estava lá na manifestação dizer que Portugal era um grande império. Se eu pudesse falar com esse rapaz eu apenas lhe diria para ter juízo e não exagerar nas palavras que utiliza. Império? O quê? Este pedaço de terra à beira mar? Se isto alguma vez foi um império foi precisamente à custa desses que ele quer mandar embora. Ou será que ele se esqueceu que os portugueses tiveram as suas colónias e que foi à custa delas que fez muita coisa?

Fez e continua a fazer. Continuamos a explorar o “preto”. Mas quando chega a hora do “preto” nos dar coisas boas já o consideramos português. Vão agora dizer-me que o Francis Obikwelo é branco? Não, agora é português. Mas se fosse mais um africano que vem para cá a trabalhar nas obras, seria mais um preto.

Cada vez sou mais contra o racismo. Cada vez acho mais que é fruto da ignorância das pessoas. Cada vez acho mais que as pessoas não param para pensar e reflectir. Acreditam no que lhes aparece à frente. São tipo o cão de Pavlov ( para quem não sabe tem a ver com o conhecido reflexo condicionado). As pessoas vêem pessoas que com outro tipo de melanina ( a proteína que dá cor à pele) e já pensam que são pessoas mal-formadas. E depois não conseguem diferenciar, e qualquer outra pessoa com o mesmo tipo de pele é igual. É o chamado preconceito. É formar o todo a partir de alguns elementos. É então um argumento falacioso.

E agora sinto-me bem por ter conseguido conciliar conhecimentos adquiridos em três disciplinas do secundário!

Lembrem-se que a chungaria não é só feita por pretos, e que nem todos os pretos são mal-formados. Para quem não acreditar nisto é só dizer-me e eu levo-os a exemplos reais. Não será muito difícil para mim mostrar a chungaria branca que se junta ali no café, à noite, nem será difícil dar a conhecer colegas da faculdade oriundos de africa mas que são excelentes pessoas, colegas e alunos. Só não me venham é com a história que não os conseguem ver como sendo pretos…

Eu não fui à viagem de finalistas, mas quem foi conta que colegas escreviam em placas de sinalização, roubavam aquelas placas a dizer “WC”, andavam atrás das pessoas só para gozar, iam até à recepção em boxeres… para mim isso e a atitude que os chungas têm, e por que não dizer, que alguns dos pretos também têm, é tudo igual e eu só consigo arranjar um termo para eles, vândalos.

Que fique bem claro que não estou a defender os gangs que foram lá à praia de Carcavelos.
Para mim todos esses deviam ser castigados. Todos esses e todos os outros, que independentemente da sua origem, tenham provocado desacatos.

Mas também não podemos exigir que esteja um batalhão da policia a vigiar as nossas praias! E quem diz as praias, diz também os comboios e todos os sítios públicos onde sabemos que existem problemas.
O problema disto tudo está na falta de educação que existe entre nós. Na falta de civismo, de organização, de força de vontade para mudar.
Todos reclamam que a vida vai mal, que tudo está caro, mas não se vê grande coisa para mudar isto. O povo está cada vez mais exigente, todos nós queremos ter os nossos direitos mas na hora de cumprirmos o nosso dever, desleixamo-nos. Passamos a vida a reclamar mas é só entre nós, poucos são os que fazem por dar a sua opinião. E eu sinto isso na pele. Eu não me deixo ficar quando algo não me agrada, quando vejo que alguma coisa está mal feita. Então eu refilo, mas não me limito a desabafar com amigos e família. Eu faço por mostrar aos responsáveis que as coisas estão mal, mas quando faço isso chamam-me chata, picuinhas, refilona…e sei lá mais o quê!
É que eu penso que de nada me vale dizer ao motorista da carris que o painel que agora inventaram de por nas paragens de autocarros, não serve de nada! O motorista está-se borrifando para isso, desde que ao fim do mês ganhe o que deve ganhar. Não vale de nada dizer isso ao motorista, mas um mail à carris é sempre alguma coisas, é pelo menos uma forma de mostrar o meu descontentamento junto da empresa. Se fossemos todos a fazer isso a empresa teria a obrigação de mudar…mas assim não muda.

Tudo isto para dizer que não é havendo racismo que as coisas vão para a frente. É saber ir ao centro dos problemas e fazer algo para os mudar.

Ser racista é ser ignorante.
Da mesma maneira que há brancos civilizados e brancos estúpidos, também há pretos civilizados e pretos estúpidos. E eu estou numa situação que me permite dizer isso sem medo que venha alguém derrubar o meu ponto de vista. Eu sou branca, nasci no seio de uma família branca. Mas branca só de cor. Eu sou a primeira portuguesa da família, tudo o resto nasceu e viveu em África. Eu conheço a realidade branca e a realidade africana.
Eu não me orgulho de ser branca. Eu não me orgulho de ter nascido numa família que viveu em africa. Eu orgulho-me de ter a oportunidade de conhecer pessoas que diferentes países e de não cair nas malhas da ignorância racista. É esse o meu orgulho.

(Escrito no Sábado dia 18 de Junho de 2005)