Ontem fez uma semana que houve o tal arrastão em Carcavelos, e hoje está a começar uma manifestação contra a onda de criminalidade. Mas será mesmo por causa da onda de criminalidade ou será apenas um pretexto para haver uma concentração de racistas?! É que convém lembrar que a criminalidade não começou no passado dia 10 de Junho. Sempre existiu. Eu apenas acho curioso só agora haver gente revoltada…Não queiram que eu acredite que o motivo da manifestação seja mesmo a criminalidade! Porque é que não se lembraram de manifestar contra aquela mãe e aquele tio que fizeram não se sabe bem o quê, à pequena Joana de Portimão? Isso não é considerado crime? Porque é que não se lembram de manifestar contra a pedofilia? Parece-me assim que o termo “criminalidade” é muito relativo.
Faz-me tremenda confusão ao cérebro a estupidez dos racistas. E quando digo racistas digo todos aqueles que não conseguem ver que não é a cor da pele que influência o comportamento de uma pessoa.Por essa ordem de ideias preto é todo aquele que é criminoso. Então devo lembrar que há muitos brancos pretos…
Há pouco ouvi na SIC NOTÍCIAS um rapaz que estava lá na manifestação dizer que Portugal era um grande império. Se eu pudesse falar com esse rapaz eu apenas lhe diria para ter juízo e não exagerar nas palavras que utiliza. Império? O quê? Este pedaço de terra à beira mar? Se isto alguma vez foi um império foi precisamente à custa desses que ele quer mandar embora. Ou será que ele se esqueceu que os portugueses tiveram as suas colónias e que foi à custa delas que fez muita coisa?
Fez e continua a fazer. Continuamos a explorar o “preto”. Mas quando chega a hora do “preto” nos dar coisas boas já o consideramos português. Vão agora dizer-me que o Francis Obikwelo é branco? Não, agora é português. Mas se fosse mais um africano que vem para cá a trabalhar nas obras, seria mais um preto.
Cada vez sou mais contra o racismo. Cada vez acho mais que é fruto da ignorância das pessoas. Cada vez acho mais que as pessoas não param para pensar e reflectir. Acreditam no que lhes aparece à frente. São tipo o cão de Pavlov ( para quem não sabe tem a ver com o conhecido reflexo condicionado). As pessoas vêem pessoas que com outro tipo de melanina ( a proteína que dá cor à pele) e já pensam que são pessoas mal-formadas. E depois não conseguem diferenciar, e qualquer outra pessoa com o mesmo tipo de pele é igual. É o chamado preconceito. É formar o todo a partir de alguns elementos. É então um argumento falacioso.
E agora sinto-me bem por ter conseguido conciliar conhecimentos adquiridos em três disciplinas do secundário!
Lembrem-se que a chungaria não é só feita por pretos, e que nem todos os pretos são mal-formados. Para quem não acreditar nisto é só dizer-me e eu levo-os a exemplos reais. Não será muito difícil para mim mostrar a chungaria branca que se junta ali no café, à noite, nem será difícil dar a conhecer colegas da faculdade oriundos de africa mas que são excelentes pessoas, colegas e alunos. Só não me venham é com a história que não os conseguem ver como sendo pretos…
Eu não fui à viagem de finalistas, mas quem foi conta que colegas escreviam em placas de sinalização, roubavam aquelas placas a dizer “WC”, andavam atrás das pessoas só para gozar, iam até à recepção em boxeres… para mim isso e a atitude que os chungas têm, e por que não dizer, que alguns dos pretos também têm, é tudo igual e eu só consigo arranjar um termo para eles, vândalos.
Que fique bem claro que não estou a defender os gangs que foram lá à praia de Carcavelos.
Para mim todos esses deviam ser castigados. Todos esses e todos os outros, que independentemente da sua origem, tenham provocado desacatos.
Mas também não podemos exigir que esteja um batalhão da policia a vigiar as nossas praias! E quem diz as praias, diz também os comboios e todos os sítios públicos onde sabemos que existem problemas.
O problema disto tudo está na falta de educação que existe entre nós. Na falta de civismo, de organização, de força de vontade para mudar.
Todos reclamam que a vida vai mal, que tudo está caro, mas não se vê grande coisa para mudar isto. O povo está cada vez mais exigente, todos nós queremos ter os nossos direitos mas na hora de cumprirmos o nosso dever, desleixamo-nos. Passamos a vida a reclamar mas é só entre nós, poucos são os que fazem por dar a sua opinião. E eu sinto isso na pele. Eu não me deixo ficar quando algo não me agrada, quando vejo que alguma coisa está mal feita. Então eu refilo, mas não me limito a desabafar com amigos e família. Eu faço por mostrar aos responsáveis que as coisas estão mal, mas quando faço isso chamam-me chata, picuinhas, refilona…e sei lá mais o quê!
É que eu penso que de nada me vale dizer ao motorista da carris que o painel que agora inventaram de por nas paragens de autocarros, não serve de nada! O motorista está-se borrifando para isso, desde que ao fim do mês ganhe o que deve ganhar. Não vale de nada dizer isso ao motorista, mas um mail à carris é sempre alguma coisas, é pelo menos uma forma de mostrar o meu descontentamento junto da empresa. Se fossemos todos a fazer isso a empresa teria a obrigação de mudar…mas assim não muda.
Tudo isto para dizer que não é havendo racismo que as coisas vão para a frente. É saber ir ao centro dos problemas e fazer algo para os mudar.
Ser racista é ser ignorante.
Da mesma maneira que há brancos civilizados e brancos estúpidos, também há pretos civilizados e pretos estúpidos. E eu estou numa situação que me permite dizer isso sem medo que venha alguém derrubar o meu ponto de vista. Eu sou branca, nasci no seio de uma família branca. Mas branca só de cor. Eu sou a primeira portuguesa da família, tudo o resto nasceu e viveu em África. Eu conheço a realidade branca e a realidade africana.
Eu não me orgulho de ser branca. Eu não me orgulho de ter nascido numa família que viveu em africa. Eu orgulho-me de ter a oportunidade de conhecer pessoas que diferentes países e de não cair nas malhas da ignorância racista. É esse o meu orgulho.
(Escrito no Sábado dia 18 de Junho de 2005)